FOUCAULT E MBEMBE
Biopoder, Necropolítica e Etnia
Palavras-chave:
poder disciplinar, totalitarismo, colonialismo, escravidão, violênciaResumo
No presente ensaio, analisamos o uso de dois conceitos, “biopoder” e “raça”, em Foucault e Mbembe. Em 1976, o “biopoder” aparece entre os principais temas abordados no curso do Collège de France: Em defesa da Sociedade (2010). Paralelamente à elaboração das análises a propósito da gestão “biológica” das populações, Foucault dedica-se à descrição da noção de “raça” em usos implementados na Europa em fins do século XIX. A hipótese, nesse caso, identifica o “racismo de Estado” como condição para o funcionamento de dispositivos de segregação, de estigmatização e de supressão de contingentes populacionais subalternizados. Achille Mbembe, em Necropolítica, amplifica a reflexão de Foucault e, ao explorar a articulação entre “biopoder” e “estado de exceção”, apropria-se de temas oriundos das genealogias de Foucault, dos estudos sobre o totalitarismo de Arendt e das reflexões de Agamben a propósito da soberania, empenhando-se em demonstrar que as estratégias raciais adotadas sistematicamente pelo Estado-nação são tributárias de antigas “lógicas coloniais” de “predação” e de “exploração”. A “ficção da raça” emerge, assim, no cerne dos dispositivos modernos de governo e de produção de conhecimento e, consequentemente, na origem de inúmeras “devastações psíquicas” e de “incalculáveis crimes e massacres”. Enfim, a crítica histórica de regimes de opressão racial coloca em evidência exigências incontornáveis de responsabilidade, de reparação e de justiça.
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