Experiência nas Ciências Humanas
percurso da compreensão de Dilthey a Heidegger
Palavras-chave:
Hermenêutica, Fenomenologia, SujeitoResumo
A questão da experiência apresenta na filosofia diltheyana um ponto fundamental. É a partir da experiência enquanto singular e histórica, que se anuncia a impossibilidade dos estudos das Ciências do Espírito submetidas aos fundamentos naturais, que emanam o caráter de universais e imutáveis. No entanto, mesmo que Dilthey declare a experiência como singular e própria, ela possui uniformidades substanciais com as outras, desvelando comportamentos, juízos e conhecimentos regularizados, que não sofrem variação. Para questionar o movimento existencial regularizado, o que confronta a experiência pensada por Dilthey em seu caráter singular, Heidegger nos oferece um apoio por meio da ideia do impessoal (Das Man), que apresenta um modo-de-ser próprio ao Dasein, no qual este se orienta primariamente através dos “outros” de forma inautêntica. Embora também se constitua no horizonte da temporalidade (via historicidade), como em Dilthey, o impessoal na ontologia heideggeriana se desloca da realidade efetiva centrada na unidade psíquica para o horizonte existencial do ser-com do Dasein. Este percurso da compreensão de Dilthey a Heidegger nos revela aspectos importantes e um dos debates centrais das Ciências Humanas e Sociais contemporâneas: a potência e os limites do sujeito para seu projeto científico
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