PENSAMENTO, MEMÓRIA E MORALIDADE EM HANNAH ARENDT:
Do desafio de compreender o que acontece à exigência de assumir um lugar no mundo
DOI:
https://doi.org/10.52641/cadcajv8i2.161Palavras-chave:
Pensamento, Memória, MoralidadeResumo
A imbricação entre a atividade de pensar e o exercício do rememorar coloca-se como pano de fundo de uma obra comprometida com a articulação de uma perspectiva ético-política da responsabilidade pelo mundo. É desde esse horizonte que Hannah Arendt conceberá o pensar como a atividade que busca compreender o que acontece e o rememorar como o modo humano de deitar raízes e de cada um assumir o seu lugar no mundo comum. Nessa perspectiva compreensiva, caracteriza-se a atividade espiritual do pensar, contrapondo-se, com Kant, à confusa e problemática visão que almeja tornar útil o pensamento no mundo da vida prática; destacando, com a metáfora do expectador pitagórico, a questão fundamental da primazia da aparência, que permite divisar o desafio maior da atividade de pensar; e, realçando, com a emblemática figura de Sócrates, a importância de se refletir sobre os perigos implicados em tal atividade. Desemboca-se, nessa trajetória, na abordagem da relação entre pensamento, memória e moralidade, que é um dos modos de entrelaçar singularidade e responsabilidade na obra A vida do espírito.
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